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sexta-feira, junho 01, 2012

Pequenos negócios precisam de mais informação para aderir à sustentabilidade

Entrevista com  Presidente da Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, José Tarcísio da Silva, fala sobre os desafios do segmento para entrar na economia verde



Vanessa Brito - CENTRO SEBRAE DE SUSTENTABILIDADE - CSS  30.05.2012 | 12:19 

Informação é fundamental para que mais empresários de pequeno porte entendam e adiram à sustentabilidade. A falta de informação a respeito do tema não impede, no entanto, que muitas micro e pequenas empresas já estejam adotando práticas sustentáveis no seu dia a dia ou aproveitando as oportunidades que surgem na economia verde. De norte a sul, empreendimentos de diversos segmentos estão se inserindo espontaneamente no novo mercado, que busca harmonizar aspectos econômicos, ambientais e sociais. É um caminho a ser trilhado, a despeito das lacunas na distribuição de conhecimento e informação e dos custos relacionados com a mudança de processos, hábitos e procedimentos, segundo José Tarcísio da Silva, presidente da Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro).


Empresário de pequeno porte do comércio varejista há 25 anos, José Tarcísio está exercendo o segundo mandato consecutivo à frente da Comicro. A entidade tem sede em Recife (PE) e congrega 22 federações e associações representativas dos pequenos negócios, ramificadas em 22 unidades da Federação, que, juntas, compõem o Sistema Comicro/Femicro/Amicro. Ele atua como empresário na capital pernambucana, onde é proprietário do Mercadinho Pirâmide Hortifruti e Cereais, no bairro de Iputinga. No momento, ele acumula a presidência da Federação das Associações das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte de Pernambuco (Femicro/PE).



Na década de 90, ao perceber que milhares de pequenos negócios do país não dispunham de uma entidade que os representasse junto aos governos, mercado e sociedade, decidiu se dedicar a essa causa. O segmento precisava de políticas públicas para impulsionar seu desenvolvimento. Desde então, exerce várias funções e cargos no movimento, que culminou na criação da Conempec em 1994, que, em 2008, passou a se chamar Comicro. Ele é membro efetivo do Fórum Permanente da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte e do Comitê Gestor da Redesim. José Tarcísio participou ativamente do processo de elaboração e aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e da figura jurídica do Empreendedor Individual, que geraram benefícios e vantagens para empreendimentos formalizados e aqueles que queiram sair da informalidade.


Ele é o entrevistado do site Centro Sebrae de Sustentabilidade, às vésperas da Rio +20, conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada na cidade do Rio de Janeiro, no período de 13 a 22 de junho. Na entrevista o presidente da Comicro faz uma rápida reflexão sobre o tema do século 21 e as micro e pequenas empresas. Para o presidente da Comicro, o segmento constituído por cerca de 6 milhões de empreendimentos é grande responsável pela geração de riqueza, distribuição de renda e promoção da cidadania no país.

CSS: Qual é o papel das MPE no desenvolvimento sustentável brasileiro? Elas vão aderir à chamada economia verde?

José Tarcísio : As microempresas e empresas de pequeno porte são responsáveis pelo desenvolvimento, geração de emprego e distribuição de renda nas diversas regiões do país. É importante ressaltar que este desenvolvimento deve ocorrer com equilíbrio ambiental. Pequenas ações fazem toda a diferença, seja no uso correto da energia por meio de máquinas mais eficientes, a impressão racional de materiais, como também, a utilização de papéis reciclados.


As novas microempresas estão aderindo cada vez mais à economia verde. O aumento da coleta seletiva nas cidades e os editais de compras públicas, baseados em critérios de sustentabilidade, também comprovam essa tendência no âmbito do poder público. Ainda que em passos lentos, as compras públicas estão avançando no país, visando a aquisição de produtos e serviços sustentáveis certificados, que geram aumento de competitividade das empresas que apostam na sustentabilidade e na evolução das relações de cooperação social.



CSS: As práticas sustentáveis induzem a novos comportamentos e mudança de valores, como também, menos desperdício, maior eficiência e aumento de competitividade. Quais são os principais desafios para implantar essas iniciativas na gestão e rotina dos pequenos negócios?


José Tarcísio: Os principais desafios são a falta de informação e o alto custo de materiais e máquinas, necessários à implantação das práticas sustentáveis. Cerca de 60% das microempresas e empresas de pequeno porte ainda desconhecem o termo sustentabilidade e, mais ainda, as práticas sustentáveis. Muitas microempresas já realizam simples ações como, por exemplo, pintar de branco a parede de um escritório para reduzir a temperatura do ambiente, e o uso de aparelhos com maior eficiência energética. É preciso, porém, fazer com que elas percebam que nas práticas sustentáveis há novas oportunidades de negócio, produtos e serviços.


CSS: Como avalia a economia verde? Com o tempo, seus princípios vão envolver todo o mercado?


José Tarcísio: O termo “economia verde” que vem sendo utilizado no Brasil, desde a Rio/ 92, é relativamente novo. Muitos ainda desconhecem tal expressão. Antes disso, algumas questões relacionadas com a sustentabilidade já vinham sendo trabalhadas em vários setores da economia. Acredito que com o passar dos anos e dos avanços tecnológicos, as microempresas e outros setores do mercado vão aderir a esse tipo de economia. Além de cuidar do ambiente na qual estão inseridas, elas também corroboram para um trabalho mais correto, limpo e gerador de riquezas.

CSS: A Política Nacional de Resíduos Sólidos está abrindo oportunidades para novas cadeias de valor no país. Os empresários de pequeno porte estão percebendo os novos nichos de mercado?

José Tarcísio: As oportunidades de negócios, no que diz respeito aos resíduos sólidos, já foram percebidas pelas microempresas e empresas de pequeno porte, que ocupam significativo espaço no Brasil, especialmente quando se trata de reciclagem. De forma bem positiva, com a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, novos aspectos surgiram e estão sendo reavaliados e “explorados” pelos empresários de pequeno porte. Eles começaram a trabalhar tais aspectos que envolvem, por exemplo, a avaliação do ciclo de vida do produto, logística reversa, redução, reciclagem, reuso e remanufatura e ecodesign. Há empresas reusando água na limpeza de sua estrutura, assim como microempresas que adotaram combustível de fonte limpa e renovável no lugar de combustíveis fósseis para aquecer suas caldeiras.

CSS: A Comicro tem atuado na conscientização das MPE sobre sustentabilidade?


José Tarcísio: Por meio de capacitações para os dirigentes da Comicro, onde são abordadas questões muito além de liderança e gestão, mas, também, a sustentabilidade da empresa como também o desenvolvimento sustentável e a aplicação de práticas sustentáveis. Outra forma de trabalhar essa conscientização tem sido por meio da publicação da Revista “Casos de Sucesso”, que apresenta várias experiências de empreendimentos sustentáveis. Um exemplo é a empresa Amazongreen, filiada ao nosso sistema, que trabalha com a extração de essências retiradas da região amazônica, de forma sustentável, para produzir perfumes e sabonetes. Além disso, suas embalagens são feitas a partir de folhas secas de pitanga.



CSS: Recentemente o Sebrae realizou sondagem junto a 3,9 mil empresários dos setores de comércio e serviços, indústria e construção civil e do agronegócio, cujos resultados foram divulgados no último dia 3. Este estudo revela que 81 % dos empresários de pequenos negócios desconhecem a importância e significado da Rio+20. Como explica esse alto índice de desinformação?


José Tarcísio: Relaciono o resultado dessa sondagem com a falta de informação entre os empresários, visto que, se formos avaliar a divulgação feita pela mídia a respeito do significado da Rio +20, deixa muito a desejar. Para quem já sabe do que se trata, é mais fácil acessar informações sobre a conferência da ONU e sua importância. Mas, para aqueles empreendedores, que passam o dia no seu local de trabalho, onde muitas vezes não têm acesso a TV, rádio e outros meios de comunicação ou só durante seu período de descanso, fica realmente complicado obter informações e conhecimento maior sobre o evento e a temática, que será tratada na Rio+20.

CSS: Como convencer os empresários de que os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação ao comportamento e atitudes das empresas?


José Tarcísio: Acho que por meio da divulgação de informações e apresentações de casos de empresas que aumentaram seus negócios, depois da adoção de práticas sustentáveis. Esta é a melhor maneira de conscientizar não só os empresários de pequeno porte, mas, também, a sociedade em geral. Essas ações são benéficas para o bolso e para o bem-estar social.



CSS: O Sebrae é parceiro das Nações Unidas (ONU) na realização da Rio+20 e participará do evento com o objetivo de sinalizar a importância da inclusão dos pequenos negócios na economia verde, seu papel na erradicação da pobreza e no desenvolvimento sustentável brasileiro. Qual é a sua expectativa em relação à Rio+20? Esse evento pode se tornar um marco para as MPE?

José Tarcísio: Trata-se de um evento grandioso, que pode ter um largo alcance a partir do momento que a realização da Rio + 20 seja massificada, em termos de evento mundial, seus objetivos e significado. Dependendo dos resultados e da massificação das informações e conhecimento discutidos durante a conferência, com certeza a Rio + 20 poderá significar uma nova direção para as microempresas e empresas de pequeno porte brasileiras.

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